quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Musicalmente Fascista


Foi mal, mas não deu pra resistir.

Claudia Leitte, perdeu várias chances de ficar calada. A primeira foi quando se lançou no mercado fonográfico, a última foi quando comparou fãs de rock que não gostaram com sua apresentação com Hitler. Não bastasse a" artista überproduzida, moldada por pesquisas de mercado, como uma margarina ou algum lançamento imobiliário", como sabiamente André Barcinski a definiu, declarar, em pleno palco, que queria que os presentes no Rock in Rio se sentissem em pleno Carnaval da Bahia (sem levar em consideração de que, se as pessoas quisessem se sentir em pleno Carnaval da Bahia, ELAS IRIAM AO MALDITO CARNAVAL DA BAHIA), ao perceber que a piada “Claudia Leitte no Rock in Rio” simplesmente não colou, partiu para o que havia de mais maduro: "VOCÊS TÃO É COM INVEJA!". Imaginem se cola: “Oposição exige explicações do governo; presidente afirma que é inveja”. “Manifestantes pedem saída de prefeito, líder na Câmara fala que é inveja”.

Claudia Leitte sofreu na mão dos twitteiros durante a apresentação e, na sequência, tentou fazer a egípcia para a crítica micro-blogueira. Não conseguiu. Dedicou a eles um posto em seu blog (cheio de referências a Rita Lee, a única que se dispôs a defendê-la. Tem doido pra tudo).

A loira simulou um clima fajuto de "tô nem aí", como se a a lata de margarina em questão não ligasse para as críticas. Ela tentou, eu juro que ela tentou... Mas a margarina pode negar até o fim que queria o mínimo de aprovação entre os musicalmente fascistas que, como mostrou a história, não engoliram a piada, não engoliram os covers de seu show e, definitivamente, não engoliram ela no line-up do festival.

O que ela nega, porém, a lógica põe em dúvida. Se o lançamento do mercado imobiliário aí não quisesse agradar, por que diabos enfia Led Zeppelin e Rolling Stones no repertório? Se não se importasse com a opinião dos que, segundo a própria, ressaltam a insegurança e insatisfação consigo mesmo, porque diabos deu-se ao trabalho de respondê-los? Se "criticar de modo depreciativo o outro, ressalta minha insatisfação e insegurança comigo mesma", criticar a crítica não é exatamente a mesma coisa? O texto está mergulhado nesse tipo de coisa... Quer mais exemplos? Ok. Lá vão elas, em vermelho.

"Artistas internacionais vêm pra cá, mostram a bunda, atrasam-se por 2 horas pq estão dando uma festinha no camarim, não conseguem conciliar a respiração com o canto, não preparam espetáculos para o nosso povo, desafinam, enfim, pouco se importam conosco, querem beijar na boca, ir à praia e tomar nossa cachaça, e nós, que pagamos caro para assistir aos seus “espetáculos” em nossa terra, aplaudimos a tudo isso. Ah! É Rock! É Pop! É bom!"

Vamos pular qualquer semelhança que esse tipo do comentário tenha com um carnaval fora de época. Isso seria fácil demais.

Segundo a página do Sidney Rezende, isso foi uma alfinetada para barbadiana Rihanna. Ao que Claudia Leitte indica, ao vir ao Brasil, Rihanna queria mais era beijar na boca, queria mais era beijar na boca. Queria mais era beijar na boca e ser feliz dali pra frente. Não lembro bem quem cantava sobre esse tipo de coisa...

Ela com certeza não foi a única a fazer isso dentro do universo da música, e nunca houve relatos de xilique por parte da lata de margarina aí. O que revolta de Leitte é - além do claro fracasso na tentativa de ganhar um "joinha" dos rockeiros que ela quis agrada ao som de Led e Stones - não é a atitude de Rihanna. Ela quer é exclusividade canarinho nesse tipo de prática. Só os artistas da terra podem mais é beijar na boca e ser felizes dali para frente, um discurso ufanista vagabundo semi-ariano típico de quem mesmo? Deixa pra lá...

Eu poderia me sentir ofendido, agredido ou magoado com os comentários da Claudia Leitte aos musicalmente fascistas. Mas não me sinto. Que nada! A nova musa do carnaval baiano acusando seus detratores de fascismo? Depois de ver coisas como essas aqui embaixo?


Ou a entrevista do Slavoj Zizek para a Globo News? (pule para 2:59 e entenda)

Eu acho isso tudo hilário! Principalmente a lógica leitteana, que só é encarado como lógica válida no carnaval baiano e por quem fez o line-up do Rock in Rio. Em qualquer outro lugar, isso é evidência de falta de lógica da cantora - que se soma, graças à qualidade do post em questão, à sua recém-descoberta falta de talento literário. Que, por sua vez, se soma a já há muito descoberta falta de talento musical e à total falta de criatividade na hora de fazer uma crítica (ou alguém pode pensar em algo mais óbvio do que apontar o dedo e gritar "nazista!"? Isso é quase como lançar um disco de grunge durante os anos 90 ou começar uma banda cover em Fortaleza - recentemente alçada pelo Acesso MTV ao posto de "Londres brasileira").

Musicalmente fascista? No meu prédio, a gente chama de “gente que não gosta da minha música e tem internet”, mas se prefere chamar assim, então ok. Quem sou eu pra discutir? Sejamos “musicalmente fascistas” então. Mas, Claudia, sinceramente, quando você aceitou se apresentar no Rock in Rio, esperava que tipo de reação?

PS1: A margarina também tentou passar o ar de pessoa bem resolvida, que aceitam críticas. Mas ela impõe condições: “fazer um show como este e receber tantas críticas boas”. Por algum motivo espalharam por aí que você só pode fazer críticas construtivas, ou é só um detrator desocupado. Ora, eu sou assessor de alguém pra sair fazendo críticas construtivas?! Podem até achar que críticas destrutivas são para os desocupados, mas isso é tudo que eu ofereço por conta da casa.

PS2: Cuidado ao criar polêmicas, Claudia Leitte. Elas podem retornar. Agora, por sua culpa, quem digita “ariano que se achava superior ao judeus”, só lê sobre você.